quinta-feira, 11 de maio de 2017

Balanço

Isso não é um balanço, não se engane, isso é um portal! 
O meu primeiro portal para o infinito. Outro dia fui visitar meu pai na cidade em que ele mora, fazia muito tempo que não o via. Quando cheguei lá foi todo aquele cuidado de sempre, o almoço, o suco de bacuri e as incríveis histórias de teimosia de meu pai contada pela esposa dele. Meu pai todo contente me trouxe uma frutinha conhecida como "pitomba" ali eu já fiz a minha primeira viagem ao passado, senti o cheiro da minha primeira casa. Depois ele me levou todo orgulhoso em seu quintal cheio de árvores e de frutinhas gostosas, todo bem cuidado e limpinho, quando me deparo com um BALANÇO, tão pleno, tão apaixonante, eu logo disse: Olha pai o senhor continua fazendo balanços? Ele sorriu e respondeu: "Fiz pro joãozinho, ah ele adora, chega da aula e corre pra cá", encontrei naquele momento e na maneira do meu pai falar o AMOR, aquele amor tão grande que ele compartilhava comigo quando eu era criança, quando eu era o "joãozinho". Eu caminhava pelo quintal com meu pai e todo um filme da minha infância passava suave e lentamente em minha lembrança, poderia até colocar uma trilha sonora. INFÂNCIA, como foi a sua? A minha foi perfeitamente inesquecível! Pois bem, sigamos com as sensações... Foi um dia muito especial esse que passei com o meu pai, mas esse balanço no quintal dele foi a página do livro daquele dia que mais demorei lendo, me perdi em todas as entrelinhas possíveis. Além de me fazer inúmeros questionamento sobre a vida e sobre todo o caminho que percorri até aquele momento pensei que tudo começou no quintal da minha casa do interior, Tauarizinho. Um lugar tão grande e cheio de árvores, uma delas (queria poder lembrar qual) ofereceu um galho forte para a construção do meu balanço. Eu sentava e me embalava, devaneava tantas coisas. Naquela época eu não entendia, como hoje, a sorte que tinha em ter aquele mundo tão gigante e seguro para brincar de qualquer coisa que fosse. Apesar de infinitos primos e primas eu passava muito tempo brincando sozinha, isso mudava quando o meu irmão André passava as férias comigo e aí o quintal se transformava em todos os desenhos e filmes que a gente assistia, principalmente a Alameda dos Anjos, depois de morfar lutávamos com as árvores, também conhecidas como "bonecos de massa da Rita" e era tudo muito bonito e divertido até a mamãe gritar da porta da cozinha (que era toda cercadinha) pelo meu nome e a gente correr pra tomar banho, isso era sempre antes das 18 horas, bem na hora em que as cigarras estavam cantando. 
Eu não sabia quem eu era e nem quem eu queria ser, eu só adorava aquele lugar, não me preocupava com nada, vivia um dia de cada vez. O balanço era o que eu mais amava, morria de ciúmes dele (criança né?!), então, me deparar com aquele balanço no quintal do meu pai me fez voltar no tempo e pensar em toda a simplicidade e amor que era o meu mundo quando criança. Uma família grande, que não se limitava em mãe, pai e irmãos. Lembro de ser muito querida pelos meus tios e tias. O mais interessante era a proximidade que tinha com a família de minha mãe DORA que até então sem qualquer ligação sanguínea era onde e com quem eu passava muito mais tempo e até hoje é assim, os irmãos da minha mãe são como pais pra mim. Eu sempre fui rodeada de amor e de pessoas que cuidaram de mim sempre. Minha mãe, que me guardou em seu ventre, antes de sair desse plano pediu que a minha mãe de coração cuidasse de mim, fazendo mais algumas ressalvas e pedidos. que meu pai biológico acatou de maneira tão digna (grata por isso), entregando-me aos braços e ao coração de seu irmão (meu pai Zé), ao qual tem todo o meu carinho, afeto e amor e que também construía balanços, descascava laranjas enquanto me esperava sair do colégio (indo me buscar em seu caminhãozinho) e comprava bicicletas maiores que eu (risos). Todos me conheciam naquele lugar, principalmente pela minha história de vida, com o tempo fui deixando de ser a "Aline filha da Telma que a Dora criou" e passei a ser "a filha mais nova da Dora". Hoje vejo tantas pessoas interessadas nessa história, querendo entender como tudo aconteceu, quem são todos os atores dessa trama e eu só consigo pensar na sorte que tive nessa vida em receber tanto amor de todos os lados e de tantas pessoas (mas não pensem que me tornei alguém iludida com uma realidade perfeita, pelo contrário, consigo enxergar todas as dores, só tento olhar de uma forma mais grata, poética e positiva). 
E por incrível que pareça eu pensei em tudo isso depois que vi aquele balanço. Sempre contei a minha história de forma objetiva sem parafrasear muito sobre todo o amor incluído nas atitudes e ações de todos os envolvidos, e agora consigo perceber tudo isso. Eu tenho uma família grande e adoro isso, talvez por isso sou tão encantada por gente. Nunca "não me senti da família" na casa que cresci e recebi afeto, tenho um laço muito forte com minha mãe, meus irmãos e agora meus sobrinhos. E hoje eu penso em tanta coisa, mas nunca penso "e se tivesse sido diferente", na verdade eu nunca parei pra imaginar se tivesse sido diferente, salvo alguns momentos tristes com meus irmãos que não cabe aqui, mas que mesmo assim eles me ensinaram tanto sobre amor quanto sobre qualquer outra coisa. Hoje eu moro com o André (alma gêmea), depois de tantos encontros e desencontros impostos pela vida, sei e sinto o cuidado e proteção que ele tem comigo, uma pessoa com tanta luz e perdão dentro de si que até me pergunto se ele não é um anjo, na verdade acho que ele é. Eu sempre fui muito sonhadora, de fugir completamente da realidade mesmo, e quando criança eu queria tanto uma casa grande e com todos os meus irmãos juntos, hoje quando vejo a relação entrelaçada com meus irmãos biológicos e de coração eu penso que sim, eu realizei um dos sonhos de quando eu era criança, devaneando naquele balanço. E eu só posso agradecer meu pai Zé por tudo isso, ele pode não ter me presenteado com um livro quando eu tinha 5 anos, mas ele me deu um balanço, o que me fez viajar em ares criativos e sonhadores do mesmo jeito.

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