quarta-feira, 29 de abril de 2020

Sentir, morrer e renascer. Qual superação você quer por perto?

É muito engraçado cada pessoa ter um conceito diferente para "superação de um fim de relacionamento". Mas pensemos, cada pessoa tem a sua história, suas vivências e é normal que algumas opiniões sejam diferentes. O que não é normal é alguém querer dizer-te como sentir, como sofrer, quando voltar, quando ficar, quando ir. Entenda, essa experiência é sua e apenas sua.
Tive um relacionamento bem longo, vivenciei e aprendi muitas coisas, mudei. Alguns amigos afastaram-se e eu vivi a vida da outra pessoa, aparentemente estamos fadados a ter essa experiência na vida, pelo menos uma vez.
Ao fim desse relacionamento, decidi que viveria o luto, iria esgotar tudo que pudesse permanecer em mim dessa fase. Esse negócio de "curar um amor com outro amor" sempre foi uma corda muito frágil pra mim, nunca acreditei. Sou adepta do natural, de tudo que pode acontecer naturalmente. Não vou mentir, ouvi mutos conselhos para viver alguma coisa, ainda que destruída por dentro, não pelo fim do relacionamento, mas por pensar no tempo que dediquei a tudo aquilo, isso doía. Quando você finalmente entende que na maioria das vezes você estava só, vivendo tudo aquilo sozinha e tendo que ouvir "você é a vida do nosso amor, se você desistir ele morre", então, sufocada com essa responsabilidade e me sentindo cada vez mais sozinha, eu deixei ele morrer.
Ouvir de amigos "você tem que seguir em frente" sendo que eu estava seguindo, estava respeitando o luto que merecia ser vivido daquele relacionamento que lógico, assim como muitos, não tinha sido ruim, teve um tempo que fui muito feliz e como diz o Cícero, até que "tudo foi desbotando, até desaparecer".
Eu respeitei o fim. Chorei, senti raiva, senti medo, solidão, desespero e um vazio imenso. Imagina ter que reaprender a viver sem hábitos são simples, corriqueiros. Mas eu não sucumbi, não pensei na outra parte da história e me preocupei apenas comigo. Desapego, superação, amor próprio, tudo no seu tempo voltando para o seu devido lugar. Voltei a fazer coisas minhas, redescobri tanto de mim que estar em minha companhia era sempre a melhor parte do dia, até que isso se tornou o dia inteiro. Foi uma fase de intenso aprendizado, o que eu queria e o que eu não queria era tão claro, tão evidente e tão profundo, dentro e fora de mim, que era revigorante sentir que as pessoas me enxergavam na rua e deveriam pensar "como aquela garota parece ser tão feliz e dona de si?"
Eu superei um grande amor. Me deixei sentir tudo, esgotei! Tirei tudo de mim, arranquei tudo o que um dia alojei em meu coração. Esvaziei, poderia flutuar ao invés de andar, quase voar. Estava leve e me sentia bem, conseguia ouvir o outro na mesma proporção que ouvia o meu silêncio e me sentia tão maravilhosa com isso.
Depois que tudo isso passou, eu vivi alguns encontros, uns foram inesquecíveis, outros passaram, apenas um ficou e durou, outros foram sorrisos na rua, outros uma visita, um café, um cinema. Todos vividos intensamente, porque eu tinha espaço para guardar esses encontros dentro de mim, todos significaram. Me dei conta que estava vivendo, comandando o barco, do jeito que eu sempre quis, dividindo, aprendendo e escolhendo o próximo passo de acordo com o meu coração.
Depois dessa história de superação de um grande amor eu me apaixonei de novo e foi tudo tão lindamente natural, romântico e cúmplice que se eu pudesse teria ficado e continuado. Mas, o que eu aprendi, além de me querer e me amar, foi acima de tudo respeitar o tempo, o compasso, a trilha do outro.
Sabe qual é a grande diferença entre uma superação e outra? A primeira, que doeu muito, mas esgotou qualquer vestígio em mim me ensinou algo muito além. Aprendi que a gente escolhe quem ainda queremos por perto, quem soma, quem nos faz bem. E, certamente, eu realmente não quero dividir nada do que eu conquistei, com luto, redescoberta e liberdade, com a primeira superação. Uma pessoa que tem um agradecimento pelas linhas que escreveu no meu livro, mas que se puder ficar bem longe, eu agradeço mais ainda.
Ao amor que ficou e durou, seu doce fim, o tornou digno de ser guardado. Está entre os amadurecimentos e bonitas trocas que queremos por perto, a amizade e gratidão, o brilho, o inesperado e puro amor que não precisa ir embora, que escolhemos deixar armazenadinho e para sempre vivo. Não foi ninguém que nos ensinou, isso aprendemos de dentro para fora, como sentimos e como nos permitimos sentir.

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