Abro
a gaveta da vontade e você está lá, tomada de doce afeto sorrio a saudade que
mexe com o mais veloz pensamento a percorrer um momento que ainda não existiu. Te
alcanço enquanto me desfaço em trechos de músicas que guardam você como
“perfume pela casa” ou um “cheiro dentro de um livro”. E mesmo que você tenha
me ensinado as mais lindas poesias, a mais ardente paixão e o mais generoso
amor eu ainda não sei bem o que tudo isso significa se outra pessoa tenta fazer
diferente de você.
Com
você eu não caibo mais em mim, o meu eu será então todo você. Não tenho medo de
cantar aqueles versos que surgiram na madrugada quando sequestrei você em meus
imaginados flagras do seu olhar assustado ao me ver dobrar a esquina da rua que
você passa, ao me sentir cobrir sua sombra na calçada e segurar seus olhos com
minhas mãos e esperar você falar meu nome porque você sabe qual o perfume que
eu estou usando.
Se você soubesse o que eu eternizo por
aqui, você não demorava a chegar... Se você conseguisse assistir o filme que
fiz pra gente, você saberia exatamente o que sentiu quando andou de bicicleta
naquela tarde enquanto a gente desatava o mundo em poemas feitos com o barulho
da gargalhada ao sujar a roupa de sorvete. Quanto ao pôr-do-sol eu também
pensei nisso e adivinha a música que escolhi pra tocar no fone que dividirá
nossos ouvidos enquanto nossas mãos permanecem com os dedos confusos entre si.
Hoje
eu “já não tenho medo de saber quem somos na escuridão” porque naquele dia
conversamos sobre luz e eu passei a te chamar de outra forma, nem lembro
mais seu nome. A casa que fizeste em mim tem uma rede na varanda e árvores
ao redor, quando o vento bate ele sopra poesia no que chamam de rotina e então
já não estamos mais lá. Ontem eu tive um sonho, você chegava e o abraço não
tinha fim, assim como minha alma que inteira encontrava a sua, era manhã e eu
estava preparando o café, nada demais nesse sonho, pois ele surge até quando
estou acordada.
Não
é pela distância, pois eu te sinto tão aqui que as músicas já não cabem mais no
toca fitas, no vinil ou na play list feita da falta de você, “tudo se acaba e
aí crio asas e aí elas querem voar” até seu olhar, confesso até que “eu queria
me enjoar de você, mas não consigo”. Você me ensinou como encontrar o amor e me
mostrou onde ele mora me convidou para ficar SOL contigo e eu cantei “saiba
você é meu sol”. Poetizando eu sigo por aqui, onde lembranças futuras devoram
além do meu pensamento esse lugar que de uma forma tão sublime te tomou como
minha janela, meu café, minha cama, meu sofá. Meio intenso, mas sentir é bom.
Me espera na escada, eu tô chegando e não se assuste se da rua eu gritar seu
nome, é que a saudade já está falando por mim, ou melhor, gritando. Venha “você
é quem me continua” e poetiza comigo essa vontade estampada na ansiedade de te
encontrar e saber como são “os dias azuis”.
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