sábado, 3 de abril de 2021

2020.

Chegamos em 2021 e parece que passamos por 2019 há uma década. É muito estranho pensar em tudo que poderíamos ter vivido no último ano "normal" que tivemos e que deixamos para depois. Eu lembro apenas de ter passado por 2020, chorado dia sim e dia sim, ter me preocupado com quem amo e ter continuado a trabalhar, a conversar com os amigos e a me cuidar, nesse processos esqueci de viver, sorri menos e só conseguia pensar em todas as pessoas que estavam perdendo seus entes de maneira tão devastadora. Eu senti. Não tive forças para escrever e confesso que por muito pouco perdia a esperança em dias melhores, não pela pandemia que nos abateu, mas sim pelas pessoas que estavam agindo como se nada estivesse acontecendo. O egoísmo impera, a perversão e decadência humana dando às caras na sua melhor forma. Quem, nesse período, não sentiu a sombra da insanidade tentando dominar os dias comuns? Quem não se decepcionou com pessoas queridas, por atitudes ou palavras? Eu não posso falar sobre experiências alheias, mas as minhas eu posso tentar detalhar aqui.

Tecnologia, trabalho, pessoas, amigos, família, planos e sonhos. Tudo na mais alta incerteza controladora do meu bem estar diário. A crise de ansiedade voltou, há tanto tempo eu não sentia rasgar meu peito, desde o mestrado. Insônia, gastrite nervosa, inquietação, medo, choro frequente. Meu emocional ficou abalado, mas como conversei com a psicóloga, sempre coloco as pessoas na minha frente, o medo não era por mim e sim por todos os que eu amo e que eram muito teimosos para se cuidarem. Fui chata e impaciente com eles, e eu não sou assim, não com todo mundo. Eu estava mudando, estava perdendo o controle com coisas pequenas. Queria me agarrar em alguma fé, queria ter algo para acreditar, não queria perder a poesia em mim. Mas eu estava me perdendo na desesperança e me esquecendo de continuar sonhando. O medo estava maior. E eu não aguentava mais as "lives", nem a fantasia de ter que fazer exercícios em casa, muito menos conseguia me concentrar na leitura de um livro.

Um dia eu acordei, estava de home office desde março, estava agora em meados de maio de 2020, resolvi ser grata, foquei na gratidão. Eu estava bem, minha família estava bem, meus amigos estavam bem, eu estava trabalhando, recebendo todos os meses normalmente, conseguindo arcar com os compromissos financeiros, tinha uma casa para morar e me proteger. Eu não tinha do que reclamar, então eu apenas agradeci. Agradeci a saúde e a vida de todas as pessoas que são especiais para mim, ao mesmo tempo que pedia luz e conforto para os corações daqueles que estavam chorando suas perdas.

Eu criei uma rotina em casa, eu lia, estudava inglês, geografia, história, filosofia, política e espanhol. Assistia vídeos de entrevistas e também de viagens, como eu amava assistir esses vídeos. Vi mais filmes e séries. Acordava bem antes do home office, tomava café tranquila, fazia alongamentos, ouvia músicas, fazia vídeochamada com a família e amigos sempre. Foram dias complicados e atípicos, o primeiro semestre foi um desespero total, um turbilhão de emoções dentro de mim, e não, eu fiquei ou não estou totalmente bem.

Passei pelo ano de 2020, aos poucos fui me sentindo mais confiante. Quando voltei a trabalhar presencialmente eu acordava bem, via as pessoas no ônibus, curtia o caminho e na volta pra casa conversava com o motorista de aplicativo. No fim do ano fui pra casa da minha mãe, foram dias renovadores com a família e de repente era um novo ano, com os mesmos medos, inseguranças e incertezas.

O texto me expõe de uma forma que não estou acostumada ou confortável, mas morando praticamente só, tudo o que eu quero é conversar, desabafar. Sinto tanta falta de encontrar pessoas, conversar e tomar os meus cafés, mas isso é tão pequeno quando paro para pensar. Aprendemos muitas coisas nesses tenebrosos dias, mas nada é capaz de superar o valor que demos aos nossos mais próximos e especiais seres, demos importância aos nossos sonhos e não tem como olhar de outra maneira para o tempo. Eu me pergunto todo dia, será que ainda tenho tempo? Quando é a hora certa de ter aquela tão adiada conversa? Quando é a hora de realmente sair do casulo, da zona de conforto? E aquele curso, aquela viagem, quando realmente vou arrumar tempo pra realizar o que deixo para depois? Vai ter um depois?

Dizem que o que movimenta o mundo são as perguntas e não as respostas e eu me vejo exatamente no meio de tudo isso. Ressignificar, reaprender, resistir e viver. Encontrei novos propósitos, me decepcionei com pessoas e olhei com muito mais carinho para mim. Suponho que isso tenha acontecido com muita gente, às vezes chegamos ao ápice do medo para ter coragem e assim garantir várias outras qualidades que fomos apagando em nós. Eu aprendi que a vida é tão frágil quanto nossas prioridades, ou convicções que construímos ao longo da nossa existência. Olhar para trás, fazer uma autocrítica, resetar, tirar o peso do ombro do que não precisamos mais levar conosco e entender que o futuro é e sempre foi agora. Temos que viver, acreditar em nós mesmos e seguir em frente. Fazer de tudo para doar amor, atenção e amizade às pessoas, ser gentil a todo custo, respeitar as diferenças, dar ouvidos às histórias alheias e conselhos quando nos for solicitado, abraçar com mais frequência, dizer "eu te amo" inesperadamente, ouvir mais o coração, ter como objetivo realizar, não seguindo nenhuma ordem estabelecida, apenas aproveitar as oportunidades, experimentar comidas novas, descrever experiências e aprendizados e principalmente cuidar de quem corre do nosso lado.

Sejamos fortes, persistentes e vivamos. Existir, todos existem, mas viver, poucos estão se doando tanto para a vida. O que você aprendeu com as reflexões que fez enquanto estava se sentindo solitário? De quem você sentiu mais saudade? O que você pretende fazer quando tudo isso passar?

Para você que chegou para ser a “dona da minha cabeça”

Quando eu disse “vem andar e voa” eu fiquei tão assustada quanto você. A doce sensação de sorrir boba ao te olhar, de ficar com borboletas n...