quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Desculpe, eu usei lápis!

Acordei e senti o peito cheio, cheio de vazio. Sentei na cadeira e olhei pela janela, não tinha cortina e nem o sonho era lembrado. Olhei para os lados e estava só. Não tinha peso, nem arrependimento e para o meu desespero nem saudade. Não existia asa de lençol e nem falar coisas engraçadas antes de dormir fazia mais sentido. Não era conchinha e nem travesseiro. Não era parede e nem era sorriso. O pensamento pregando peças e eu me flagrando em presentes futuros. Eu entendi. Eu entendo! Não tinha pólvora, não era fogo. Não tinha banco, não era tanto. Não tinha foto. As cartas eu rasguei, os nomes apaguei, até das minhas tortas lembranças. Faço questão de não lembrar o que gostava e como gostava. O grito ainda é abafado no peito, os olhos ainda guardam as mágoas e o coração, ah o coração tá voltando a comer aos poucos. Cds, musicas, fotos, sofá, cama, nada faz mais sentido do que a página do meu diário rasgada, as datas riscadas. A loucura perdeu, eu ganhei. Já não estou mais onde não pertenço, o passado reconheceu seu insignificante lugar e se calou. Os pássaros pousam na minha janela da sala e por algumas vezes rasam voos rápidos pelos meus caminhos no corredor sem fobias noturnas. Eu estou bem, pareço estar bem? Queria possuir uma estrela, brilhar ela no coração e sorrir sua luz de mansidão. E só pra constar, de manso o tempo não tem nada. Desenho na calçada, caminho de pedras. Vou adiante e quando chegar onde tenho que chegar você não estará, nem sombra será. Arderá no sol ao me acompanhar com seus olhos nos espaços em branco que não lhe cabe. Antes transbordei, hoje sobro, folgo, danço... É vazio, mas tem sorriso. Eu esqueço, mas tem lembrança. A saudade não é sentida, os momentos inexistem e você evapora. Vou pensar um pouco embaixo daquela árvore, olhar para o céu e divagar pensamentos soltos que não condizem com músicas usurpadas da minha lista de preferidas. Assalto-me e crio caminhos passo a passo eu passo você e te deixo para trás e sem virar para a direita ou esquerda sigo reto, até ensaio uns passos de alegria e alívio. A cada dia você vira pó e eu liquido fluido derramo-me reaprendo a transbordar. A fome é vencida, o medo também... Já não tenho medo de dobrar as esquinas e sei que falta pouco para eu não mais te reconhecer na rua ou na minha vida, afinal, agora sim eu me sinto viver. Moro em mim e fiz confortável minha nova casa pra que eu não precise sair. Para frente que estou andando, talvez eu dobre para a direita ou esquerda, mas eu apenas sigo. Você deixou bagunçado e sobrou para eu cuidar de tudo, mas eu arrumei diferente e não há mesmice ou rotina que me faça acomodar o inquieto coração que reaprende andar. Esses dias ele flutuou, ele não tarda a voar de novo e aí nem as nuvens saberão que um dia eu fui nós. A liberdade me quer e o amor me tem. Não adianta me procurar, você ficou para trás e eu apaguei todas as minhas pegadas, não esqueci nada e não tenho motivos para voltar. Vida de metade não me cabe mais. Agora sou inteira, dona de mim e posso voar para onde eu quiser e o meu maior segredo é que eu sempre escrevi sua historia de lápis e ela foi completamente apagada. Desculpa, mas você não existe mais, nem nos devaneios de inverno. Nem na intimidade do meu ser e muito menos nos dias de céu aberto. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para você que chegou para ser a “dona da minha cabeça”

Quando eu disse “vem andar e voa” eu fiquei tão assustada quanto você. A doce sensação de sorrir boba ao te olhar, de ficar com borboletas n...